sábado, 25 de novembro de 2006

AS MÃOS
caneta rollerball sobre papel



ao António Quadros
Componho com as linhas dos meus dedos outros puros
cujas pontas façam girar nenhum raio sucessivo
de sol Dedos sem o cadastro de enlaces doendo
e se declamo ficções que eles escorem
Sem par noutras mãos Nem fundos na algibeira
mexidamente obscenos e a salvo da garra dos gatilhos
Dedos com um horizonte de pálpebra baixando
que assim não acordem as formas tacteadas
donde um sono mane estrie os espaços vedados
Dedos de que mesmo a chuva escorra sem uma lágrima
Ou os que já compus e assinam adiam o poema.

Sebastião Alba

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

poor man de Edward St. John Gorey


perguntem-lhe por mim e
se pode vir
para recolher o
meu corpo no fim
só bulido pelo vento

e se o vento é conjunto
de pássaros invisíveis ou seres
tão claros, escondam que sou
cruel, que fico a debulhar
anjos como flores para saber
se bem ou mal me quer


Valter Hugo Mãe

O AMOR
nas
en
tre
li
nhas
NÃO SE LÊ
[o amor consome-se]

domingo, 19 de novembro de 2006

UM LOUVOR
pela serenidade de uma bica perfeita

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

[ montmartre ]
les artites

montagem de tule flocado sobre foto

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Carpe diem
frame de curta-metragem de Francis Picabia, Erik Satie, René Clair, Marcel Duchamp, Man Ray e Jean Borlin
Confias no incerto amanhã?
Entregas às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma substitua o riso claro de um corpo que te exige o prazer?
Fogem-te, por entre os dedos, os instantes; e nos lábios dessa que amaste morre um fim de frase, deixando a dúvida definitiva.
Um nome inútil persegue a tua memória, para que o roubes ao sono dos sentidos.
Porém, nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias; e abraças a própria figura do vazio.
Então, por que esperas para sair ao encontro da vida, do sopro quente da primavera, das margens visíveis do humano?

"Não", dizes, "nada me obrigará à renúncia de mim próprio - nem esse olhar que me oferece o leito profundo da sua imagem!"

Louco, ignora que o destino, por vezes, se confunde com a brevidade do verso.

de Nuno Júdice

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

[... à espera de alguém ...]


Caneta rollerball sobre papel
Desencaixar a memória dos dias… Desencaixar a memória dos dias e limpar-lhe o pó. O pó que a memória ganhou durante o tempo em que não estiveste aqui.
Mas não posso chorar…já não sei chorar…esqueci-me!

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

[...i never say “bye”...]


quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A memória está dentro de um frasco de formol.
Sorvo o formol até à última gota.
A memória fica dentro do frasco, inerte, viscosa, no fundo.
E eu, dentro da memória, fico no fundo do frasco sem formol.

Caneta rollerball sobre papel