quinta-feira, 20 de novembro de 2008

de profundis amamus

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria


Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros


Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes


O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso


Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo
azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso


Mário Cesariny

1 comentário:

observatory disse...

li tantas vezes isto

lembro-me de nao ter sido longe...

é engraçado

numa outra esquina

perguntava-me ele se eu sabia onde se vendiam cigarros e agua das pedras...

depois... se eu tinha um jazigo de familia com um lugar para ele

nunca mais me perguntou nada.

bjo


ps: UPS! na tua cx de verificaçao "socalues" :) palavra catita