quinta-feira, 29 de setembro de 2011
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Amofinação
não conto a ninguém das minhas vontades
não hasteio bandeiras de medo por não ter força nos braços
não ouso sequer a convulsão porque um dia não chorei
amarguem-me a vida aqui e agora
numa última tentativa
porque amanhã será infinitamente tarde
sábado, 22 de janeiro de 2011
e o menino ficou e o demónio também
na força das coisas que nunca foram coisas mas a que sempre chamei “coisas”
aquilo que me perturbava e que nunca passou de um longo e temeroso adeus
desde o princípio
desde o asfalto na auto-estrada onde as horas demoravam a passar
desde o breve momento em que os olhos se cruzaram e a voz segredou “bom dia”
Eram buracos na garganta por onde passavam lamentos em forma de véu e calma da praia negra onde o mar abeirava a pele – eram as mãos sobre as minhas com um pedido soturno de quem não tem onde poisar a cabeça.
- Eu seguro-te quando estiveres mais perto do chão, se ainda me restarem as forças e
“se ainda quiseres poderemos revisitar a Normandia” escrito a spray no muro alto, ao cimo da rua. Já não sobra nem um pedaço do muro, nem um pedaço da memória para construir o muro e escrever nele a esperança.
- Se ainda quiseres poderemos reerguer o muro e escrever nele a esperança. “se ainda quiseres” é a certeza incondicional de que nunca quiseste.
depositava em mim toda a confiança para se deixar cair do alto do muro onde nunca se escreveu nenhuma esperança.
e eu a mãe. eu a agasalhar no ventre a fome do outro. eu a salpicar de açúcar o amargo da existência – do outro. eu a ficar mais frágil, mais neutra, mais insalubre. o oxigénio a faltar e o muro na minha frente, construído sem mácula, sem graffiti, sem desejo. eu não a mãe, a débil filha, a frágil criatura, sem rumo, sem muro, sem lágrimas, sem pejo, a pedir de joelhos a misericórdia, a afastar o barco do cais. a navegar sozinha, a engolir em seco a súplica e os artelhos a tentarem aguentar o corpo, reerguerem o corpo onde nunca se escreveu a esperança, onde a mácula era de sangue e o torpor se instalava.